sexta-feira, 24 de junho de 2011

Hoje eu entendi...

Procura da Poesia
Carlos Drummond de Andrade

"...Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo."


Hoje eu consigo mais que nunca entender tudo o que um dia tentaram me explicar, tudo o que um dia tentaram me fazer enxergar, mas eu, como criança, cega, "pura", preferi acreditar no que era visível, hoje eu começo e me permito ver as "faces secretas" e a "face neutra'', sinceramente, nunca teve tanta importância assim.

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